domingo, 23 de setembro de 2012

Pat Pimentinha

Instituto História Viva - 09/12
Fotografia: Thiago Domingos
Pat Pimentinha é uma garota sapeca e risonha. 
Ela tem um imenso sorriso, olhos de jabuticaba, cabelos cor de fogo e adora vestir roupas coloridas... 
Ela nasceu em uma cidade chamada RUBIPEA. Lá ela vivia com os pais e muitos irmãos. Ela, como filha mais velha tinha que ajudar a cuidar dos pequenos. 
Teve uma infância feliz; pobre mas feliz, os pais não tinham muito tempo nem paciência, trabalhavam demais (eram muitos filhos pra alimentar). Moravam num sítio e junto com os irmãos se divertia muito... brincavam, brincavam, brincavam... não essas brincadeiras de toda criança: esconde esconde, rela, queima, não.... 
Como moravam num sítio as brincadeiras eram diferentes e muito mais divertidas: correr das vacas no pasto, provocar o carneiro de chifres enormes só pra vê-lo bufando, subir nas árvores e escorregar pelos galhos até o chão, fazer fogueira a noite e correr com os gravetos acesos nas mãos soltando faíscas quentes pra todo lado, agitar um bambu próximo da figueira onde moravam os morcegos pra deixa-los zonzos e sem rumo com o zunido...
A menina Pimentinha cresceu, virou uma linda garota e todos os garotos queriam estar perto dela, diziam que ela era linda e muito amorosa, mas ela se achava feia e desengonçada. Estranha mesmo... e se isolava de todos. Não tinha amigos nem namorado. 
Sua companhia eram as borboletas – ah como ela amava a leveza e a liberdade das borboletas – e os livros que ela devorava... se imaginava linda e feliz como as princesas das histórias que lia...
Havia muitos conflitos em sua família, ela se sentia uma estranha lá. Pimentinha pensava diferente, sentia diferente, via diferente... queria conhecer o mundo quando sua família queria que ficasse presa na segurança do lar, queria estudar quando seu pai esperava um casamento com alguém de boa família, queria rir e brincar quando o lema da família era TRABALHO, TRABALHO, TRABALHO. Ela chorava mas obedecia ao pai, pois o amava e não queria contrariá-lo.
Durante muito tempo ela sofreu por ser diferente. Sem entender o porquê, Até que ela conheceu Rose Serelepe, uma bruxinha boa, que com seus poderes logo descobriu o que havia acontecido. 
Quando seus pais a esperavam, a cegonha errou o endereço de entrega e ela, que estava destinada a uma família de FADAS, havia nascido numa família de humanos. 
Pat Pimentinha, uma fadinha, sim senhores, uma FADA!!!!!
Ora, vejam só, claro que ia se sentir diferente, ela ERA diferente.... 
Então, depois desta grande descoberta, ela não podia mais perder tempo; já era crescida, quase independente... foi uma luta, mas conseguiu convencer os pais de que precisava estudar, ir embora... agradeceu a eles e foi PROCURAR SUA TURMA...
Quando Pat pôde finalmente se olhar como realmente era: uma fada linda e com muitos dons, seus poderes afloraram de uma só vez. 
Ela cura com as mãos e com o sorriso que vem direto do coração – ela tem olhos que sorriem (vcs já viram gente, ou fada que ri com os olhos???)...
Tem um poder que vcs nem imaginam.... mas não é o tipo de poder a que as pessoas estão acostumadas, é um poder suave e aconchegante... quentinho como colo de mãe, com cheiro de terra molhada, gosto de broa de fubá, e cor de arco-íris...
Hoje, todos, inclusive sua família, a olham com respeito e admiração pela sua essência de fada curadora e ela não se esconde mais. 
Pat finalmente pode mostrar quem é... pode ser a garota com ar de sapeca e risonha, sempre pronta a cuidar e curar... seja uma unha encravada, uma dor de dente, espinhela caída, até dor de amor Pat Pimentinha cura...
Alguém ai está precisando??????


Instituto História Viva - 09/12
Fotografia: Thiago Domingos
Depois de sua grande descoberta, havia algo a ser feito.
Pat Pimentinha na sua condição de Fada Curadora agora tinha uma grande responsabilidade. Dons existem pra ser exercitados e ela sabia disso.
Saiu de sua pequena cidade RUBIPEA, foi pra um lugar chamado BATICURI, onde teria possibilidades pra estudar e conhecer melhor a si mesma. Além disso, aquela era a cidade das fadas. Então, deixou o pouco que tinha, despediu-se da família e seguiu seu caminho. Muitos a criticaram, não entendiam, porém sua amiga Rose Serelepe a incentivava.
- É isso mesmo, você deve ir, não ouça o que os outros dizem, eles têm medo. E ela, seguiu seu caminho.
Na sua nova morada era preciso trabalhar para seu sustento; era inteligente e dedicada a suas atividades com amor.
Mas logo deparou-se com outras dificuldades. Havia permanecido longos anos em meio a humanos, muitas crenças haviam se formado em seu ser e voltar à sua essência de FADA, era trabalhoso. Afinal, não tinha convivido com seus semelhantes. Não sabia como era ser fada... suas células estavam na vibração dos humanos; precisava de um tempo e algumas experiências para que sua vibração mudasse, ressoando com a energia dos seus encantamentos.
Vou contar um segredo a vocês, nós aprendemos a ser quem somos, nos espelhando nos outros. Pat Pimentinha teve apenas modelos humanos... havia muito a aprender, ou desaprender...
Era meiga e simpática, logo fez amizades; conheceu algumas fadas e descobriu que havia uma famosa escola em que poderia aprimorar seus dons.
Não perdeu tempo, inscreveu-se na Faculdade de artes das Fadas Dharmarte - Caminho para a Verdade Superior, lá aprendia a arte de voar, essências e aromas silvestres, colorterapia, as diferentes composições e indicações de uso do pó de pirilampos (pó feito da luz verde curadora dos vagalumes), telepatia, meditação, teletransporte, percepção extra sensorial, chackras, canto, harpa, violão. Ela amava estudar e conhecer tudo aquilo; o que mais gostava era a IMPOSIÇÃO DE MÃOS.
Elisa Camila era uma das professoras com quem ela mais se identificava. Veio da Itália; uma grande, poderosa e amorosa Fada professora que ensinava tudo o que sabia a Pat e a incentivava nas suas hesitações. Eram tantos poderes aflorando que Pat Pimentinha tinha medo de não dar conta de tudo.
Quando ainda vivia entre os humanos percebia as dores que estes tinham em seu corpo sutil, o que não era percebido pela maioria das pessoas, mas muito importante, pois quando elas não estavam bem, este corpo ficava pesado, trazendo doenças e dores. Raiva, culpa, mágoas, tristezas deixavam-nos negros e pesados como nuvens em dia de temporal.
Como muitos nem acreditavam na existência dele, ficava relegado a segundo plano e as pessoas corriam aos médicos em busca de pílulas milagrosas que nada resolviam.
Ajudar as pessoas a não sofrerem mais as consequências destas dores era o maior desejo de Pimentinha.
- E como fazer isso? Foi a pergunta que ela fez a Elisa Camila.
- Não tenho essa resposta, disse a professora, você a tem. A resposta está em você.
Pimentinha não entendeu. Foi para casa e por mais que se esforçasse não conseguia compreender. Leu todos os livros que encontrou sobre o assunto, perguntou a muitas pessoas, pesquisou no Fagoogle e nada....
Um belo dia estava passeando no parque quando percebeu um homem, sentado próximo do lago com olhar ausente, expressão triste, sozinho, angustiado.
Aproximou-se sem que ele percebesse – não são todas as pessoas que vêem as fadas – e ele estava tão perdido em suas dores que nem se deu conta de que ela estava ali. O coração de Pat Pimentinha ficou triste com o sofrimento daquele ser solitário. Sem pensar, colocou as mãos sobre a cabeça dele, lenta e suavemente... a vibração energética era tamanha que ela sentia o calor e correntes elétricas percorrendo seu corpo. Aos poucos a expressão de Luiz –  Luiz Certinho –  esse era seu nome,  foi suavizando; num instante ele sorria olhando as crianças que corriam atrás de uma bola. Olhou para o céu, esticou os braços e saiu saltitando e cantarolando.
Pimentinha, ah, essa então pulava e tremelicava as asinhas espalhando sem perceber pó de pirilampos pra todo lado; era pura alegria. Aos poucos ela começou a ouvir um barulho diferente do que ouvia sempre: buzinas, gritaria, gente falando coisas ocas, vazias de significado, ou fofocas. Aquietou, apertou o ouvido e o que ouviu a deixou curiosa. Risadas, risadas, risadas... foi ver o que era. Havia um rastro de pó de pirilampo e por onde ele havia caído, as pessoas riam, se abraçavam, olhavam umas pras outras. Ela ficou boquiaberta.
Olhou por alguns instantes aquela cena e teve uma ideia. Verificou seu estoque de pó de pirilampo, voou bem alto, de onde podia ver toda a cidade e começou a semear, soprando aquele pó mágico por sobre os prédios e casas. E por onde ele caía a cena se repetia: a face das pessoas se transformava: os olhos brilhavam, a boca se abria num enorme sorriso até explodir em gargalhadas.
Sem que Pimentinha percebesse, Elisa Camila que observava tudo lhe disse:
- Você encontrou. Dentro de você está a chave para atingir o coração das pessoas e dar a elas o que precisam. É tão simples, você procurou em muitos lugares, mas estava em você o tempo todo. O seu amor incondicional e o desejo de ajudá-los a se curarem fez este milagre.
Duas grossas lágrimas rolavam pelas faces de Pimentinha, finalmente ela entendia.
Se vocês prestarem atenção em noites sem nuvens, verão um brilho diferente no céu. É a Fada Pimentinha em sua incansável missão de espalhar pó de pirilampo em todos os cantos onde haja dor, tristeza, solidão...

*história escrita para apresentação no curso de Contadores de histórias do Instituto História Viva. 


http://www.historiaviva.org.br/


sábado, 22 de setembro de 2012

Casario

Largo da Ordem 08/12
Fotografia: Rita Delconte

Sob o céu azul anil,
 por entre os pedregulhos
e o casario antigo
em passos lentos
o amor cúmplice
se faz
que seja assim
hoje, pois o amanhã, 
ah, dele não sabemos...
e estas paredes
e este chão
que tantas histórias 
viram começar e terminar
assistem a mais uma ...
o que virá? incógnita
então, viva a experiência
neste momento...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Eu...


Ilha do Mel - 01/12
Fotografia: Verônica Miranda



quem sou eu...
uma imagem enevoada ao longe...
uma onda que vai e vem ao sabor dos ventos...
Quem sou eu...
Aceitação...
Desapego...
Gratidão...

Infinito



Ilha do Mel - Encantadas - jan/12
porto para o infinito....
apenas o ponto de partida...

Aridez

Curitiba - R. Visconde de Nacar - 08/12
Fotografia: Rita Delconte



Aridez...
é o sentimento que me toma neste instante...
frio concreto, cinza paisagem; 
secos os galhos sem nada a ofertar: sombra, o aroma das flores, a doçura dos frutos...
aridez gelada e silenciosa... 
e o coração, solitário navegante...
encontrará o que procura?
ou continuará cinza, gelado, 
esperando... esperando...